Redação no ENEM Como garantir mais de 900

O Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM, leva milhões de estudantes a escreverem uma dissertação do tipo argumentativa no primeiro dia da realização da prova. Trata-se de um grande desafio, pois, um resultado negativo na escrita, compromete o sucesso do exame. Isso porque a redação garante a tão sonhada vaga em uma das centenas de universidades públicas brasileiras – e algumas internacionais, que participam do Sistema de Seleção Unificada, o famoso SISU. E nesse processo, a gente sabe que algumas faculdades excluem os candidatos que tiram nota zero na redação, e aqueles que obtiveram notas altas pulam na frente na lista dos classificados. 

Então, durante o ano de preparação para a prova, existe a real preocupação por parte dos estudantes em mandarem muito bem em suas produções. Acontece que essa possibilidade não é, infelizmente, uma realidade entre todos os candidatos. Segundo levantamento realizado pelo Ministério da Educação (MEC), mais de 40% dos que realizaram o exame, na edição de 2020, tiveram um desempenho abaixo de 400%, e apenas 22 redações conseguiram alcançar a nota máxima – 1000 pontos. Considera-se, a efeito de cálculo, que mais de 4 milhões fizeram a prova, mesmo em um ano de pandemia.

Diante de tais dados, algumas questões são levantadas: por que um resultado tão baixo? O que fazer para mudar essa realidade? E como garantir, em um contexto educacional sofrível, notas altas na redação do ENEM? Bem, esses e outros pontos, tentarei responder aqui para você. Vamos lá?

A INEFICIÊNCIA DAS ESCOLAS NO ENSINO DA ESCRITA

Segundo a autora Arlete Salvador, em seu livro “Como escrever para o Enem”, publicado pela Editora Contexto (2013), os alunos do Ensino Médio não são preparados para escrever ao longo da formação no Ensino Básico. Isso fica evidente quando os estudantes brasileiros são submetidos a exames internacionais e estes escancaram a ineficiência das escolas em desenvolver proficiência da escrita (e nem estou destacando aqui do desempenho acerca da leitura e da interpretação, cuja discussão ficará para um outro artigo, mas que é igualmente preocupante). 

Bem, aqui temos vários pontos a serem analisados, contudo, vou me ater ao aspecto redacional mesmo. 

NÃO SE SINTA O PIOR DOS PIORES, DISSERTAR É DIFÍCIL

Primeiro, escrever um texto dissertativo é realmente muito, muito difícil, por ser uma tarefa a qual se assemelha à produção de uma tese de mestrado ou doutorado, uma vez que o tipo argumentativo tem a mesma estrutura, com a diferença de ser muito mais curto. Em geral, com 30 linhas manuscritas ou até 3.000 caracteres com espaço, na modalidade digital. Diga-se de passagem que a própria Arlete Salvador pontua algo que falo para TODOS os estudantes que me procuram: escrever proficientemente é realização hercúlea.  

O QUE PRECISA TER NA REDAÇÃO DO ENEM?

Pois bem, a redação do ENEM – assim como todas as dissertações argumentativas – precisa, necessariamente, ter uma tese muito bem definida a respeito de um tema que nos é proposto, apresentar argumentos sólidos para a defesa dela, e ainda por cima, retomar o posicionamento inicial de tal maneira que não fique, nem circular, nem traga nenhum elemento novo a ser explorado. Baita tarefa!

Agora, preste bem atenção: isso requer do candidato muito mais do que apenas escrever bem ou conhecer a tipologia textual. São necessários muitos requisitos tais como domínio da modalidade culta da língua; uma leitura proficiente, que reconheça com exatidão o encaminhamento feito na proposta; saber executar uma estrutura dissertativa, sem que nenhuma das partes não seja embrionária; ter e organizar um repertório legitimado, sólido e pertinente; conhecer os recursos linguísticos em favor da organização textual de modo que estabeleça coesão e coerência; e mais: trazer uma intervenção que não desrespeite os direitos humanos. Tá bom pra você ou quer mais?  

JORNADA DO ANEL?

Mas, para mandar muito na redação do ENEM, não é preciso uma jornada solitária, ainda que demande um esforço individual repleto de desafios, é possível chegar ao UM anel. Porém, tenha a consciência de que serão, sem dúvida, horas e horas de estudo, muita leitura e prática e centenas de reescritas. E somente esse trabalho trará o resultado esperado. Escrever bem e com fluidez é uma habilidade a ser desenvolvida durante os anos escolares. Por isso, não caia no conto de que com uma formulinha pronta se chega a notas acima de 900, porque é enganação, charlatanice pura. Aqui é a insistência, a perseverança,  a aceitação do erro, a caneta e o papel, os dedos no teclado, olhos nas letrinhas e na tela, e nada mais. 

PLANEJAMENTO NO MOMENTO DA ESCRITA

Também é importante salientar que, para colocar as ideias no papel, é necessário um mínimo de planejamento. Como brinco durante as aulas “texto não brota do nada”, e “ideias brilhantes são brilhantes no mundo de Platão”, porque aqui na Terra, o que vigora é a prática aristotélica, se não souber como escrevê-las no papel, de nada resolver serem abrilhantadas. Não adianta argumentar que “falta criatividade” e não “sabe” o que escrever. 

É preciso organizar o texto tal como fazem os mestrandos, doutorandos, bons autores e jornalistas. Texto é plano, planejamento. Não dá para sair com destino a uma cidade e não traçar um itinerário mensurável e passível de ser seguido. 

Então, após a leitura da coletânea, é fundamental definir o posicionamento a ser adotado, ou seja, a tese a ser defendida; elencar os argumentos a serem utilizados, em favor da defesa do ponto de vista, e quais as estratégias argumentativas serão aplicadas ao longo da argumentação. Sem isso, o texto corre o risco de ficar “circular”, “tontológico”, “raso”, “sem gordura”, “fraquinho mesmo”, entre outros tantos adjetivos que me levaria a ficar aqui um tempão enumerando.

OLHOS DE ÁGUIA

Não menos relevante que ler, escrever, conhecer a gramática, ter repertório, aplicar tudo isso em 30 linhas e no formato tipológico solicitado, é preciso aprender a ser revisor do próprio texto, isto é, ser crítico e perceber o que pode ser aprimorado. 

E nesse finalzinho, divido uma experiência pessoal. Logo que ingressei no universo da edição, ouvi de uma grande editora com quem aprendi muito “Cris, olhos de revisor, não deixe passar nada”. Um acento, um conectivo, um sinal de pontuação, um trecho justaposto ou truncado, a ausência de uma referência, podem determinar se a sua redação ficará abaixo ou acima dos 900. Então, olhos de águia!

Sou graduada em Letras, Pós-graduada em Design Instrucional e, claro, sou Especialista em Produção Textual. Trabalho com Redação e Língua Portuguesa há mais de 20 anos, atuei em diversos cursinhos, fui dona de cursinho, inclusive, passei por grandes colégios, hoje sou a responsável pela Tudo de Texto – Soluções Educacionais e para a Escrita. Vivo das palavras! Desenvolvo e ministro cursos presenciais e a distância, realizo edições textuais, revisão e elaboração de diferentes conteúdos educacionais. E claro, respondo pelas aulas na Tudo de Texto

Cris Oliveira

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